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Biblio Tubers

Pensamos a escola como sistema aberto, capaz de refletir a sociedade e de responder aos desafios contemporâneos. Acreditamos no poder da partilha e das redes.

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A Obsolescência da Formação | fobIA

O Papel dos Professores num Mundo com Inteligência Artificial

Outubro 29, 2023

A rápida evolução da tecnologia e a crescente presença da inteligência artificial (IA) no Mundo estão a transformar profundamente o cenário educativo. Os professores enfrentam desafios sem precedentes, à medida que a tecnologia se torna uma parte integrante da sala de aula. Avanços e recuos na sua utilização em contexto educativo são normais. São estas interações, a experimentação, a avaliação e a aceitação ou a rejeição de determinadas estratégias/ recursos/ ferramentas, que caracterizam o dia a dia de um professor.

Mas vale a pena investir tantas horas de formação para alcançar a tal "transição digital"?

Não teremos já começado esta transição há muito tempo? Com o Projeto Minerva (1985), o Programa Nónio Séc. XXI (1996) e o Plano Tecnológico da Educação (2007)?

 

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Imagem criada pela tecnologia DALL-3

 

Com a constante evolução da tecnologia, esta transição não tem um ponto final claro, e é por isso que é crucial adotar uma mentalidade de aprendizagem ao longo da vida. Os professores devem estar dispostos a adaptar-se a novas tecnologias, a aprimorar as suas competências e a adquirir conhecimento à medida que novas ferramentas e práticas emergem.

Qual é, então, o papel que cabe à Escola?

A Escola não pode limitar-se a transmitir informações. Deve cultivar competências fundamentais, como o pensamento crítico, a resolução de problemas, a capacidade de comunicar e ouvir o outro, a criatividade, a adaptabilidade e a capacidade de aprender ao longo da vida. Os professores desempenham um papel fundamental na orientação dos alunos neste processo de desenvolvimento de competências para navegarem com sucesso num mundo impulsionado pela IA.

Como podem os professores preparar-se para esses desafios? Fazendo formação que, passados alguns meses, estará obsoleta, pois surgirá outra ferramenta, mais rápida, mais eficaz e com mais funcionalidades? Como navegamos neste mar em constante "tempestade"?

A resposta está na aprendizagem ao longo da vida. Este conceito começou a ganhar destaque a partir de 1972, com o lançamento do relatório "Learning to Be" da Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, presidida por Edgar Faure. Este relatório enfatizou a necessidade de promover a aprendizagem contínua e a adaptação à mudança, antecipando a importância da aprendizagem ao longo da vida. Desde então, o conceito tem-se fortalecido e é um princípio fundamental na educação contemporânea.

Os professores devem adotar uma abordagem ampla e holística. Devem desenvolver a capacidade de aprender continuamente, aprimorar as suas competências de adaptação e ensinar os alunos a fazerem o mesmo. Isso significa abraçar a mudança, manter-se atualizado e estar disposto a experimentar novas abordagens.

A aprendizagem autónoma e ao longo da vida é a chave para enfrentar os desafios de um mundo impulsionado pela IA. Ela permite que os professores e os alunos se adaptem às mudanças, encontrem soluções relevantes para as suas necessidades e permaneçam reativos num cenário em constante evolução.

O papel dos professores vai muito além da transmissão de conhecimento; eles são os guias que capacitam os alunos a tornarem-se aprendizes ao longo da vida, capazes de enfrentar qualquer desafio que o futuro lhes possa trazer.

Não podemos terminar este artigo sem relembrar a velha máxima de Einstein: “Insanidade é continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes.”

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Simplificar... esta é a palavra de ordem para o ano letivo 2023/2024 | fobIA

Pode a Inteligência Artificial ajudar?

Setembro 17, 2023

O ano letivo 2023/24 trouxe como novidade o Despacho 2/23 que pretende simplificar e modernizar os processos administrativos nas escolas. São 20 medidas que visam desburocratizar as escolas. O uso da tecnologia permite implementar algumas destas medidas, como a realização de reuniões online ou o trabalho remoto.

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Imagem criada com IA |  Stable Diffusion Web. (Prompt "A teacher, full of papers and looking tired at his desk, suddenly has a bright idea.")

Mas poderá a inteligência artificial (IA) ajudar?

Numa altura em que se questiona a utilização do digital em contexto educativo e em que se proibe o uso de telemóveis nalgumas escolas, o que pensar da incontornável IA?

Independentemente de sermos ferverosos adeptos do digital ou recearmos os seus avanços e impactos na sociedade, enquanto educadores temos a responsabilidade de perceber como é que as escolas podem utilizar de forma apropriada a IA, quer para simplificar processos administrativos, quer em contexto de ensino e de aprendizagem. 

Cabe aos líderes em cada escola (diretores, coordenadores de departamento, coordenadores de projeto, professores e técnicos) criar as condições para utilizar de forma eficaz e ética a IA, lembrando-se sempre que é uma ferramenta de trabalho que não tem consciência (não compreende nem controla nada), limitando-se a procurar o que lhe pedimos na sua vastíssima base de dados.

A Comissão Europeia lançou o documento intitulado Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem que ajuda as escolas a integrar esta tecnologia em quatro áreas principais:

  • criação de sistemas de tutoria inteligentes e individualizados para o ensino dos alunos,
  • apoio aos alunos de forma individualizada,
  • apoio aos professores, nomeadamente na avaliação, monitorização de alunos e até criação de recursos pedagógicos,
  • apoio aos sistemas, como por exemplo na análise dos dados das escolas, no diagnóstico de dificuldade de aprendizagem ou até em serviços de orientação.

 

Para isso, todos os profissionais da educação devem ser envolvidos nesta discussão, sobre como e quando utilizar a IA, procurando encontrar respostas para três questões essenciais:

  1. Como é que as escolas podem usar a IA para apoiar e melhorar a aprendizagem dos alunos?
  2. Como é que as escolas podem preparar os alunos, para uma sociedade cada vez mais competitiva, dominada por sistemas de IA?
  3. Como é que a escola pode ajudar os professores a tirar partido da IA, libertando o seu tempo para se dedicarem aos alunos?

 

O Bibliotubers deixa algumas propostas que podem ajudar as escolas a refletir sobre estas questões e a encontrar caminhos que facilitarão a integração da IA em contexto educativo, preparando os professores e os alunos para os desafios do nosso tempo. Cada escola deve seguir o seu próprio ritmo, tendo em conta o contexto, os recursos disponíveis e a disponibilidade dos atores educativos para iniciar este percurso.

 

Crie um ambiente propício à experimentação:

  • Destaque a utilização de ferramentas de IA por professores com bons resultados (pode ser no site da escola, na plataforma de LMS, ou até numa reunião de Departamento). Pode iniciar esta divulgação com exemplos de outras escolas ou até de outros níveis de ensino,
  • Possibilite a dinamização de pequenos worshops que permitam aos professores experimentar, sem receios, diferentes ferramentas,
  • Disponibilize informação sobre o uso eficaz de IA (por exemplo através de uma newsletter mensal, ou da partilha de artigos, documentação, exemplos práticos, nos canais de comunicação da escola.

 

Apoie os professores que querem utilizar a IA em contexto educativo:

  • Forneça os recursos necessários para a realização das tarefas em sala de aula,
  • Peça a professores que já utilizam a IA para coadjuvar os colegas que estão a começar a experimentar, ou crie a figura do Tutor de IA. 

 

Celebre os sucessos:

  • Incentive a partilha de boas práticas, quer em reuniões formais, quer informalmente (na sala de professores, nas redes sociais, por exemplo).
  • Promova uma cultura de reconhecimento e valorização na escola.

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Para saber mais sobre IA consulte os artigos da secção fobIA, ou a documentação disponível na Banca de Recursos Digitais, Depósitos de Valor.

 

Referência bibliográfica

Comissão Europeia, Direção-Geral da Educação, da Juventude, do Desporto e da Cultura (2022). Orientações éticas para educadores sobre a utilização de inteligência artificial (IA) e de dados no ensino e na aprendizagem. Serviço das Publicações da União Europeia. https://data.europa.eu/doi/10.2766/07 (https://data.europa.eu/doi/10.2766/07)

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O que há de novo para o ano letivo 2022/23?

Pouco...

Setembro 05, 2022

pexels-vinta-supply-co-_-nyc-842963.jpegFoto de Vinta Supply Co.

 

Após um ano letivo atípico, que levou ao extremo os docentes e técnicos que povoam as escolas, tínhamos algumas expetativas para o ano letivo 22/23, tendo em conta balanços, provas de aferição e exames, estudos, orçamentos públicos. Mas não aconteceu quase nada.

O sumário da Resolução do Conselho de Ministros n.º 66/2022 de 22 de julho ilustra bem a política de continuidade, pois esta resolução "Prorroga as ações específicas do Plano 21|23 Escola+. E como tal " determina-se a manutenção, por mais um ano letivo, das ações específicas «2.1.1 — reforço extraordinário de docentes», «2.1.2 — reforço dos planos de desenvolvimento pessoal, social e comunitário» e «2.1.3 — reforço das equipas multidisciplinares de apoio à educação inclusiva», previstas no Plano 21|23 Escola+, e define-se a realização da segunda edição do estudo amostral das aprendizagens" (Resolução do Conselho de Ministros n.º 66/2022).

O que significa isto para as escolas?

Essencialmente, que podem dar continuidade ao Plano do ano passado, sem grandes alterações. Aconselhamos, contudo, a que haja um olhar crítico, tendo em conta uma avaliação do impacto das medidas implementadas na escola, no ano transato. O que funcionou? O que pode ser melhorado? O que não funcionou de todo?

Para esta reflexão, os professores deverão ter em conta dois pressupostos essenciais:

 

1.º O foco tem de ser sempre a aprendizagem dos alunos.

 

O Biblio Tubers já abordou este tema em

Aprender. Por quê, para quê e como? | a propósito da recuperação de aprendizagem, uma proposta de ação

  • "E para isso é preciso voltar "ao básico". Ler, compreender o que se lê, inferir, atribuir significados, integrar novos conhecimentos. Aprender.

Estúdio de literacias | novos ambientes de cocriação nas escolas

  • "Congregado num Estúdio de Literacias, a instalar nas escolas, dar-se-á corpo à criação de espaços onde os alunos poderão, com recurso à tecnologia, desenvolver projetos de trabalho variados, planificados por si e/ ou com os professores de forma a permitir o trabalho autónomo em torno das áreas de competência previstas no  Quadro Europeu de Competência Digital para Cidadãos e que se articula com o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória." 

 

2.º Os professores, enquanto especialistas da sua área de ensino, deverão ser sempre ouvidos e envolvidos nas decisões tomadas em cada escola.

 

Que recuperação de aprendizagens? | o papel dos professores no sucesso das aprendizagens dos alunos

  • "Algumas destas propostas podem ser o ponto de partida para ações a implementar em cada escola, mas não podem ser vistas como uma receita, isto é, têm de ser adequadas à realidade específica de cada escola e apropriadas, sentidas como suas, pelos professores. E são estes profissionais - os professores - que fazem a diferença na escola."

Recentrar o ensino e a aprendizagem | o papel do professor

  • "Os professores têm de recentrar a sua ação para que os alunos dominem quatro competências essenciais: ler, interpretar, escrever e comunicar."

 

Para concluir, o Biblio Tubers aconselha a (re)leitura dos 5 conselhos telegráficos para os professores:

1. O aluno só aprende fazendo. Desafie-o.

2. O trabalho colaborativo entre professores deve ser a regra. Colabore.

3. Avaliar para melhorar práticas e aprendizagens. Não complique.

4. O digital veio para ficar. Tire partido dele.

5. Os Recursos Educativos Abertos (REA) são de todos. Use-os.

 

 

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Aprender ao longo da vida através de ambientes pessoais de aprendizagem

O que pensa de aprender ao longo da vida?

Julho 29, 2021

 

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Autores: Thiago Baesso ProcaciSean Wolfgand Matsui SiqueiraBernardo Pereira Nunes

 

Muitos de nós descrevemo-nos com termos que moldam a nossa identidade. É comum ouvir pessoas dizer “eu sou músico”, e esse comportamento confere à pessoa uma sensação de pertença a algum grupo. Outros preferem descrever-se através das suas características ou estilo de vida, tais como extrovertido, vegetariano, inteligente, e cada classificação equivale a algo peculiar de cada indivíduo.

Vivemos no mundo líquido, de incertezas, e, pela primeira vez, temos dificuldades em saber o que ensinar às futuras gerações. Tudo muda rapidamente e as informações tornam-se obsoletas a uma velocidade impressionante. O que ensinar? Sabemos quais serão as profissões necessárias nos próximos 30 anos? Não temos a resposta. Por isso, talvez seja o momento de nos descrevermos mais frequentemente como “eternos aprendizes”.

Abraçar a ideia de aprender para sempre pode soar estranho, pois quebra o conceito da aprendizagem tradicional, centrada no professor, cuja presença materializava a ideia do aprender. Seria ótimo ter sempre um bom professor ao lado fazendo a mediação entre o aluno e o conhecimento, não é? Entretanto, aprender ao longo da vida também implica a ausência de tutores em muitos momentos, caracterizando um estilo de aprendizagem mais informal.

Assim, como avalio a minha trajetória de aprendizagem ao longo da vida? Como sei se aprendi? Nesse sentido, os ambientes pessoais de aprendizagem surgem para endereçar tais questões.

Se está interessado, convidamo-lo a apreciar a leitura deste capítulo. ...

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Índice:

  1. CIBERESPAÇO E APRENDIZAGEM CONTÍNUA
  2. O HISTÓRICO DO CONCEITO DE AMBIENTES PESSOAIS DE APRENDIZAGEM
  3. DESAFIOS TECNOLÓGICOS
  4. DESAFIOS PEDAGÓGICOS
  5. PROPOSTAS DE AMBIENTES PESSOAIS DE APRENDIZAGEM
  6.  CONCLUSÃO
  • Resumo
  • Leituras Recomendadas
  • Exercícios
  • Notas
  • Referências
  • Autoria

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Que recuperação de aprendizagens?

O papel dos professores no sucesso das aprendizagens dos alunos

Julho 04, 2021

O último ano tem sido pródigo em anúncio de medidas de consolidação e recuperação de aprendizagens e capacitação de professores.

Neste momento, milhares de professores por todo o país estão a frequentar ações de formação, no âmbito do Plano de Transição Digital na Educação.

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Sabemos, contudo, com base em relatórios, estudos e saber empírico, que estas medidas pouco impacto terão no sucesso das aprendizagens dos alunos se não houver uma vontade forte de mudança:

  • das escolas, como organizações que devem liderar de forma concertada a mudança, ouvindo e envolvendo todos os atores educativos;
  • dos professores, como especialistas da sua área de ensino que devem manter-se atualizados e, de forma resiliente, esclarecida e fundamentada, devem implementar pequenas mas significativas mudanças, avaliando a cada momento o seu impacto junto dos alunos.

O lançamento do Plano 21|23 Escola+ poderá ser a oportunidade para:

  • diagnosticar de forma clara os problemas existentes em cada uma das áreas disciplinares (não basta fazer uma listagem de aprendizagens essenciais para que o diagnóstico seja eficaz);
  • ouvir os especialistas, aqueles que conhecem a realidade dos seus alunos, os professores (o que precisam ou o que é preciso para que os seus alunos aprendam mais e melhor);
  • delinear O Plano, isto é aquele que responde ao diagnóstico e que tem em conta, nas linhas de atuação, as sugestões dos professores;
  • envolver todos os atores educativos na implementação, monitorização e avaliação deste Plano.

 

O Plano 21|23 Escola+ está estruturado em três eixos - Ensinar e Aprender / Apoiar as Comunidades Educativas / Conhecer e Avaliar - e vários domínios com propostas de ações que visam apresentar caminhos em várias áreas de aprendizagem.

Algumas destas propostas podem ser o ponto de partida para ações a implementar em cada escola, mas não podem ser vistas como uma receita, isto é, têm de ser adequadas à realidade específica de cada escola e apropriadas, sentidas como suas, pelos professores.

E são estes profissionais - os professores - que fazem a diferença na escola.

Para eles deixamos uma sugestão sobre a aprendizagem ao longo da vida, da autoria de John Spencer, para que continuem, de forma autónoma, a apostar no seu desenvolvimento profissional contínuo, o que implica dominar os processos de curadoria digital.

A este propósito vale a pena ler a entrevista a António da Nóvoa,  António Nóvoa: aprendizagem precisa considerar o sentir | Reitor honorário da Universidade de Lisboa alerta que a escola não deve voltar ao que era antes, mas corre o risco de ficar ainda pior se a ênfase na tecnologia e personalização substituir o sentir e o fazer comum

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Recentrar o ensino e a aprendizagem

O papel do professor

Maio 09, 2021

Os últimos meses foram pródigos na identificação de problemas e na apresentação de inúmeras soluções, para fazer face às aprendizagens que os alunos portugueses terão perdido ao longo do ano letivo.

Pede-se aos diretores que façam o levantamento das aprendizagens por realizar, aos professores que façam o pino e que ensinem em dois meses o que os alunos não aprenderam durante um ano, e criam-se relatórios, planos, estratégias nacionais. Mas raramente se tem em conta o centro do problema - a aprendizagem - e que este problema só pode ser resolvido por quem está no terreno - os professores.

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Photo by Sven Fischer on Unsplash

 

A comunidade científica, os organismos estatais e os influenciadores  da área da educação teimam em querer apresentar soluções milagrosas, agora com recurso à tecnologia digital e lá aparece uma multiplicidade de ferramentas e respetivas propostas de trabalho que nunca poderão ser bem sucedidas porque os alunos não se identificam com "esse fazer".

O mundo dos nossos alunos é o mundo do imediatismo, jamais conseguiremos que eles sigam pontinhos numa imagem que abrem textos e powerpoints extensos que não irão ler. Este é o risco da tecnologia pela tecnologia. Subjugar o conteúdo à ferramenta, que, aliás, rapidamente ficará obsoleta. Sejamos francos, os alunos aprendem, se consultarem ou lerem estas propostas? 

Os professores têm de recentrar a sua ação para que os alunos dominem quatro competências essenciais:

  • Ler: textos diversificados e em múltiplos formatos, apresentados pelo professor ou encontrados pelos alunos na sequência de uma proposta de trabalho;
  • Interpretar: isto é, fazer inferências sobre o que se leu, pelo que as propostas de atividade devem ser desafiantes (por exemplo, através da metodologia do trabalho de projeto, em que os alunos são confrontados com problemas para os quais têm que encontrar respostas);
  • Escrever: diversificando tipologias de texto para chegar à escrita mais extensiva, como por exemplo mapas mentais, tweets, nuvens de palavras, identificação de palavras chave, ...;
  • Comunicar: favorecer uma comunicação adequada ao tempo em que vivemos e em que o som, a imagem e a palavra não vivem isolados. É nesta fase que os alunos poderão criar as tais propostas que vemos circular na Web criadas pelos professores, quando esse é o papel dos alunos.

Para que estas competências contribuam para o sucesso educativo dos alunos é importante que os professores:

- Promovam práticas de metacognição, que levem os alunos a refletir sobre o seu percurso de aprendizagem - as dificuldades encontradas, a forma de as superar e as aprendizagens realizadas.

- Favoreçam a aprendizagem social, pois, ao promoverem o trabalho colaborativo entre os alunos, tal como defende Vygotsky (Zona de Desenvolvimento Proximal),  este tipo de trabalho permite-lhes compreender, reconhecer erros, encontrar respostas, aceitar pontos de vista, discutir ideias, comunicar.

- Apontem caminhos para que os alunos possam transferir o conhecimento adquirido para novos contextos, condição essencial para que se criem verdadeiras aprendizagens. Só assim, de acordo com a teoria da aprendizagem, os alunos alcançam maturidade intelectual.

 

Uma nota final. A emergência das metodologias ativas tem como foco o trabalho do aluno, isto é, que seja ele a construir a sua própria aprendizagem. O professor não implementa uma metodologia ativa quando cria um recurso que apenas passa pela leitura ou consulta do aluno, por muito digital que seja este recurso. O foco continua a estar no professor e não no aluno.

Recentremo-nos naquilo que interessa. A aprendizagem.

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Afinal o que se vai passar nas escolas com a transição digital?

Uma cronologia anotada

Março 28, 2021

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Não haverá ninguém que não tenha ouvido falar no plano de transição digital das escolas. E com ele vieram novas siglas e vários neologismos. Vejamos:

  • PTD - Plano de ação para a Transição Digital (desígnio nacional para responder a compromissos europeus, com o objetivo de desenvolver as competências digitais dos docentes para que possam utilizar as tecnologias digitais em contexto profissional);
  • CD - Competência Digital (genericamente definida como a utilização segura, crítica e criativa das tecnologias digitais para alcançar objetivos relacionados com trabalho, empregabilidade, aprendizagem, lazer, inclusão e/ou participação na sociedade);
  • Check-In - a famosa ferramenta de avaliação da competência digital dos docentes (permite a cada docente autoavaliar-se e aos Centros de Formação integrar os professores em oficinas de formação organizadas em 3 níveis de proficiência);
  • PADDE - Plano de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (apenas os escolhidos pelas direções dos Agrupamentos conhecem bem este documento, mas, a partir de setembro será um documento estruturante da ação das escolas);
  • SELFIE - Self-reflection on Effective Learning by Fostering the use of Innovative Educational technologies (ferramenta que permite às escolas autorefletirem sobre a utilização que fazem da tecnologia educativa no processo de ensino, aprendizagem e avaliação);
  • DigCompEdu - Quadro Europeu de Competência Digital para Educadores (define as competências digitais que os educadores devem desenvolver, para todos os níveis de educação);
  • DigCompOrg - Quadro Europeu para as Organizações Educativas Digitalmente Competentes (referencial europeu que define as competências digitais que as escolas devem procurar alcançar, ao nível do ensino e da aprendizagem).

 

Como se articulam estes documentos orientadores e o que se espera que os professores façam?

Vejamos em forma de cronologia (pode haver ligeiras discrepâncias de datas ao nível de formação):

- Fevereiro/março 2021 - os professores responderam ao Check-In e, tendo em conta o quadro de referência DigCompEdu, ficaram situados num determinado nível de proficiência de acordo com a sua competência digital. 

- Março 2021 - formação das equipas designadas por cada agrupamento/escola que serão responsáveis pela elaboração  do PADDE.

- Março a junho 2021 - as equipas responsáveis pelo PADDE de cada escola irão parametrizar a ferramenta SELFIE para fazer o diagnóstico da competência digital da escola e, com base nos resultados obtidos, criar o plano de ação. 

- Abril/maio 2021 - Início da formação a nível nacional para todos os docentes, organizada em 3 níveis de proficiência, de acordo com DigCompEdu (vd. página 29):

  • Nível 1 - Recém chegado ou explorador
  • Nível 2 - Integrador ou especialista
  • Nível 3 - Líder ou pioneiro

- Setembro 2021 - Início da implementação do PADDE que deverá ser aplicado até ao final do ano letivo de 2022-2023. Está organizado em 7 dimensões, tal como preconizado no referencial DigCompOrg:

  1.  Liderança
  2. Desenvolvimento profissional contínuo
  3. Recursos digitais
  4. Ensino e aprendizagem
  5. Práticas de avaliação
  6. Promoção da competência digital dos alunos
  7. Infraestrutura e equipamento

As escolas deverão implementar as ações delineadas, com vista à consecução dos objetivos e metas definidos.

 

Uma nota final para a necessidade de envolver toda a comunidade escolar neste processo, que se quer simples e assente em metas exequíveis e adequadas ao projeto educativo de cada escola.

 

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Para Otimizar o Ensino a Distância

Conselhos práticos e recursos de apoio | E@D

Janeiro 29, 2021

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O ensino a distância assenta na utilização da tecnologia, mas não pode descurar os  elementos que dão corpo a qualquer situação educativa - a pedagogia, que neste contexto deve assentar em metodologias ativas e as relações que se estabelecem entre aluno/ professor e aluno/alunos.

Contudo, como o Biblio Tubers costuma dizer, não se podem transpor para o ensino online as práticas do ensino presencial.

Deixamos, por isso, alguns conselhos práticos e recursos de apoio que poderão contribuir para otimizar o ensino a distância.

 

PREPARE-SE

- Selecione as aprendizagens essenciais verdadeiramente importantes para o sucesso da aprendizagem dos alunos.

- Defina objetivos de aprendizagem claros e exequíveis. Deverá dar a conhecê-los aos alunos.

- Faça a curadoria de recursos, tendo por base o perfil dos seus alunos e os objetivos de aprendizagem. Para isso, deverá seguir o processo de curadoria:

  • Procurar,
  • Avaliar,
  • Selecionar,
  • Disponibilizar.

- Integre os recursos selecionados, diversificando-os no formato (podcasts, vídeos, tutoriais, links para sites, animações, mapas de conceitos, exercícios...) numa proposta de trabalho coerente - cenário de aprendizagem - que mobilize a ação do aluno a 3 níveis (Dunlap e Sands, 2007):

  • Aprender/ conhecer,
  • Integrar,
  • Aplicar.

 

- Integre, neste desenho de cenário de aprendizagem, diferentes:

  • Propostas de atividades (leitura, escrita, criação de mapas de conceitos, demonstrações, simulações, resolução de problemas, perguntas e respostas, testes, projetos...);
  • Modalidades de trabalho (individual, a pares, em pequeno grupo e em grande grupo...);
  • Modalidades de avaliação (autoavaliação, avaliação pelos pares, ...).

 

- Conjugue momentos síncronos (devem ser de curta duração e privilegiar a interação com os alunos) e assíncronos.

- Disponibilize o cenário de aprendizagem que criou na plataforma LMS (Moodle, Google Classroom, Teams ou outra) da sua escola. Para facilitar e orientar o trabalho dos alunos, defina a duração das atividades e as metas que os alunos devem alcançar.

Conselhos práticos e recursos

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PONHA EM PRÁTICA

- Assegure-se que todos os alunos têm acesso à plataforma e aos recursos que preparou.

- Utilize a vídeoconferência para explicar de forma clara as tarefas que os alunos vão realizar, as aprendizagens que devem efetuar e a forma como vão ser avaliados.

- Deixe trabalhar os alunos, garantido um canal de comunicação para tirar dúvidas, pedir esclarecimentos e dar feedback sobre as tarefas que vão realizando.

- Promova, no final da aula, um momento de reflexão em grande grupo, onde devem ser ouvidos os alunos (dificuldades encontradas, aprendizagens efetuadas, expetativas...).

 

Conselhos práticos e recursos

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AVALIE

- Clarifique os critérios de avaliação junto dos alunos, assegurando-se de que estes os compreendem.

- Diversifique os instrumentos e momentos de avaliação para assegurar a recolha de evidências e a tomada de decisões. 

- Regule o processo de ensino, de forma contínua e sistemática, a partir da análise das evidências recolhidas, para introduzir alterações na sua prática (modalidade de trabalho dos alunos, grau de dificuldade dos recursos apresentados, propostas de trabalho simples / complexas,...).

- Regule o processo de aprendizagem, para assegurar que todos os alunos estão a desenvolver as competências definidas.

- Promova a reflexão dos alunos, levando-os a auto e heteroavaliar os seus desempenhos, a partir dos objetivos de aprendizagem definidos e discutidos atempadamente.

Conselhos práticos e recursos

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O Ensino Híbrido nos Planos de Desenvolvimento Digital das Escolas

A escola híbrida como oportunidade para transformar a educação, de Juan Ignacio Pozo

Janeiro 24, 2021

Apesar de todas as limitações, constrangimentos e desigualdades que o Ensino a Distância (E@D) criou nas nossas escolas, não podemos deixar de afirmar que promoveu práticas inovadoras e mostrou o potencial do espaço digital na educação.

O momento que vivemos atualmente em Portugal, confinados devido a uma pandemia que teima em não nos deixar, e no início de um ambicioso Plano de Transição Digital (PTD) da educação, cria as sinergias para refletirmos atempadamente sobre a necessidade de integrar o ensino híbrido nos Planos de Desenvolvimento Digital (PADD) que as escolas terão de elaborar até ao final do ano letivo.

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Relembramos, a este propósito, os artigos que o Biblio Tubers já publicou e que poderão contribuir para uma discussão profícua em torno deste tema.

 

Para voltarmos ao assunto, trazemos hoje um artigo notável, da revista diàlegs (nov. de 2020), da autoria de Jan Ignacio Pozo.

O autor começa por apontar as fragilidades que foram reveladas com o E@D, nomeadamente formas obsoletas, de ensinar e avaliar, o que aponta para a urgência de habilitar os cidadãos, de uma forma geral, para uma sociedade digital, e os professores para uma mudança de práticas.

O autor refere que estas práticas pedagógicas, mesmo em espaços virtuais, continuam a ser unidirecionais:

  • Os professores transmitem informação,
  • Os alunos respondem a fichas e tarefas para serem avaliados.

Ou seja, foram escassos os espaços de interação e colaboração que os ambientes digitais podem e devem promover, pois "a escola confinada perpetuou os modelos de ensino tradicional em que os docentes geriam todo o fluxo de informação em vez de ajudar os alunos a gerir melhor a sua interação com as tecnologias digitais". 

O autor alerta para a necessidade de alterar estas práticas enraízadas, incorporando a cultura digital na escola, pois não podemos fechá-la a a uma realidade que já faz parte da sociedade. Para isto, é necessário "transformar a cultura escolar, pensar em novas formas de ensinar e aprender, em novos projetos educativos, mais abertos e fluídos."

O ensino híbrido - em que se mescla o presencial e o virtual - pode incorporar os PADD, abraçando a tão necessária cultura digital, "não só como uma tecnologia, mas sobretudo como uma forma de nos relacionarmos com os outros e com o conhecimento".

O artigo termina com 10 ideias para renovar as formas de ensinar e aprender numa educação híbrida ou mista.

MAIS...

  • ...atividade cooperativa ou colaborativa, baseada no diálogo supervisionado entre iguais.
  • ... responsabilidade e autonomia para os estudantes.
  • ... aprendizagem experiencial.
  • ... estudo em profundidade de um menor número de temas.
  • ... atenção às necessidades cognitivas, afetivas e sociais de cada estudante.

 

MENOS...

  • ... passividade dos alunos, limitados a escutar e a receber informação quietos e sentados.
  • ... currículos sobrecarregados de conteúdos que tentam abarcar todos os temas.
  • ... enfâse na competição para a classificação.
  • ... memorização de factos ou detalhes.
  • ... instrução para toda a turma centrada na docência.

 

O Biblio Tubers deixa uma última recomendação a este propósito.

As escolas devem ousar mudar e propor mudanças de fundo, em que os docentes se sintam envolvidos e as boas práticas na área do digital sejam o ponto de partida para uma disseminação que se quer participada. Os PADD devem ser elaborados com ponderação e muita reflexão participada, para que sejam verdadeiros planos de ação que guiam os professores, mostrando para onde ir, mas também como o fazer com segurança, em rede. Claro!

Se preferir, oiça o podcast:

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Planificar aulas híbridas

Pensar o presente, para responder aos desafios do amanhã

Novembro 03, 2020

A imprevisibilidade que caracteriza atualmente a educação, imposta pelas circunstâncias que vivemos, ilustra bem o grau de exigência com que se confrontam os professores. 

De facto, um pouco por todo o país há turmas em confinamento, obrigando os professores ao exercício de voltar ao ensino híbrido. pawel-czerwinski-sr9wzriI_48-unsplash.jpg

 

O Biblio Tubers, no seguimento da partilha de recursos educativos, deixa hoje três exemplos de planificações/ guias, simples e descomplicados, que poderão contribuir para a implementação de novas formas de ensinar, presencialmente e/ ou a distância.

O 1.º documento é um guia para um plano de aula, a distância, mista ou presencial, que orienta o trabalho dos alunos, favorecendo a sua autonomia na realização das tarefas e no acesso aos recursos que o professor cria/ disponibiliza para a sequência de aprendizagem planificada.

Este guia, organizado em sequências de aprendizagem, prevê momentos de trabalho em grande grupo (presencial ou síncrono) com a duração máxima de 10 minutos, para que os alunos assumam um papel ativo na sua aprendizagem.

Para facilitar a utilização do guia, sugere-se a utilização de uma plataforma de LMS, onde, entre outros, serão disponibilizados:

  • O guia da sessão,
  • Os recursos a consultar pelos alunos,
  • Um fórum de apoio/ ou chat da turma.

Uma nota final para a necessidade de simplificar a definição dos objetivos de aprendizagem, que devem ser discutidos com os alunos.

 

O guia apresentado anteriormente pode ser integrado num cenário de aprendizagem mais alargado que, seguindo o modelo proposto pela European Schoolnet, orienta a planificação do professor para o papel central do aluno, definindo não só os objetivos de aprendizagem, mas também as atividades em que os alunos vão ser envolvidos para concretizar estes objetivos.

Este modelo prevê, ainda, a utilização de ferramentas e recursos que contribuirão para a consecução do cenário, bem como a colaboração de outras pessoas e o acesso a outros lugares, que não o professor e a sala de aula.

 

Finalmente, e porque o saber não se baliza em disciplinas estanques e fechadas sobre si mesmas, apresenta-se um exemplo de uma planificação de um projeto que envolva várias disciplinas, de que são exemplo os domínios de autonomia curricular (DAC).

Este documento facilita a articulação das diferentes disciplinas e coloca a tónica nas fases do trabalho de projeto que deverão decorrer de forma natural e não balizadas pelo horário escolar e, consequentemente, pelas disciplinas. 

Para mais informações sobre o ensino híbrido, consulte os seguintes posts:

 

Caso deseje conhecer exemplos de utilização de alguns destes documentos, consulte as seguintes propostas do Colaboratório do Biblio Tubers:

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